quinta-feira, 29 de julho de 2010

Parte 9

A manhã de domingo estava bastante nublada e as previsões meteorológicas indicavam uma forte tempestade para a tarde, acompanhada de uma queda de temperatura no começo da noite. Algumas pessoas já estavam na rua preparadas com seus sobretudos, capas de chuva e guarda-chuva. No entanto, para Simone, a página meteorológica era a que menos importava nos jornais e ela não perdeu tempo em conferir a página dos eventos sociais da cidade. Estava lendo a matéria de uma amostra de dança quando viu Cássio sair do banho com uma toalha envolta na cintura.

A Ligia acabou de vir avisar que o café da manhã já está na mesa. – ela disse.

Que bom. Vou só colocar uma bermuda e já descemos. – ele disse enquanto caminhava em direção ao guarda-roupa.

Por que não desce como veio ao mundo? – ela sorriu com malícia.

Parecendo um joelho, ensanguentado e ensebado?

Ela riu.

Não seu bobo! Nu, é claro!

Pode ser arriscado, vai que a Ligia gama e resolve me levar pra casa dela.

Ela jamais faria isso, na verdade mulher nenhuma faria isso. Você é só meu.

Ele vestiu a bermuda.

Uau! Assim não tem como não ficar doido por você.

Ele se jogou na cama de casal e beijou Simone por algum tempo. Quando as carícias já estavam ficando mais quentes, ela disse:

Não, Cássio, vamos parar por aqui.

Por que? Agora que estava ficando bom. – ele a beijou no pescoço.

É eu sei, mas eu estou morrendo de fome.

Eu também. e ele deu uma mordida de leve no lóbulo da orelha de Simone.

Ela riu.

Bobo! Vai, pára com isso! Levanta!

Ele já levantou faz horas. ele a beijou no ombro esquerdo.

Simone gargalhou.

Cássio! Eu estou falando de você, seu bobinho! Vai! Levanta!

Ele resmungou alguma coisa que ela não escutou, mas acabou levantando.

Isso não vale. Olha só como você me deixou. – ele disse se referindo a ereção que apresentava.

Homens! ela sorriu Agora vem, me leva no colo.

Hum... Não sei se devo depois do que você fez comigo.

Ah, vai, amor! Por favor.

Ele se rendeu:

Ok. Venha aqui, sua safada. – ele a pegou nos braços.

Simone sorriu e se ajeitou nos braços dele.

Eu te amo. ela o beijou.

Eu também te amo.

Agora vamos descer.

Sim, senhora. – ele mudou o tom de voz quando disse: Atenção central, aeronave pedindo permissão para decolar. No três: Um, dois, três!

E Cássio deixou o quarto correndo com Simone nos braços.


***


Caio acordou com o barulho de vozes e risadas no corredor.

Ah, eu não acredito!

Olhou o relógio digital na mesa de cabeceira, ao lado da cama. Dez da manhã. Ele levantou-se devagar e foi até o banheiro. Retornou minutos depois vestindo uma sunga preta e tinha uma toalha branca e óculos de natação nas mãos. Desligou o ar condicionado e logo depois saiu.


***


Oi, Caio! Simone o saudou assim que o viu descendo as escadas.

Caio a fitou. Devia ter no máximo vinte anos, era branca, os cabelos longos e lisos, de um loiro natural, os olhos eram de um suave tom de amarelo e o corpo delgado, com curvas provocantes.

Oi. ele respondeu sem muito entusiasmo.

Bom dia, Caio.

Bom dia, Cássio. Onde está a mamãe?

Ela saiu bem cedo hoje.

É. – confirmou Simone Ela disse que iria ver umas coisinhas para o vestido de debutante da Lizzie.

Cássio gargalhou.

O que foi, amor? De que está rindo?

É que lembrei agora que o Caio vai ser o príncipe no dia do aniversário.

Sério? Simone sorriu alegremente Que legal!

Legal? Cássio tornou a rir Imagina o mico que ele vai pagar.

Não acho mico, pelo contrário, acho muito fofo. É super romântico.

Cássio ficou mais sério.

Romântico?

É. Quando eu fiz quinze anos quem dançou valsa comigo foi meu primo, foi tão lindo. – ela olhou para Caio quando falou: Parabéns!

Caio não acreditava naquela situação, mas mesmo assim agradeceu.

Agora eu vou lá na piscina, vou dar um mergulho. ele disse querendo se afastar.

Não quer tomar café com a gente? – Simone perguntou enquanto já colocava café em uma xícara.

Não. Obrigado assim mesmo. Com licença.

E ele se afastou.


***


Isso, seu verme! Faça seu trabalho! – Nogueira dizia em meio aos gemidos que emitia com o toque suave da língua do seu escravo em seu pênis É disso que seu mestre gosta! Ohh! Isso!

O jovem estava de joelhos entre as pernas de Nogueira e tinha as mãos e os pés acorrentados, bem como uma coleira de ferro um pouco apertada no pescoço. Certamente tinha vinte e cinco anos, mas seu corpo era franzino e lhe dava um aspecto mais jovem. Os cabelos loiros e lisos eram puxados a cada vez que Nogueira queria lhe proporcionar dor e seus olhos azuis se mostravam brilhantes com toda aquela performance do seu mestre.

Gosta de seu mestre, seu monte de merda?

Sim, mestre. o garoto falou e logo voltou ao ato.

Nogueira gemeu novamente e segurou a coleira, levantando-se da cama logo depois.

Vem com seu mestre! Eu quero passear com você, seu saco de pulgas.

Sim, mestre.

Nogueira começou a andar pelo quarto e o garoto esforçava-se para corresponder aos desejos do seu mestre.

Rebola esse rabinho pra seu mestre ver, vai.

De quatro, o jovem balançou o quadril.

Isso! Nogueira sorriu. Agora venha aqui. e Nogueira foi encurtando o cumprimento da corrente até deixar o garoto bem perto do seu corpo nu. Senta, meu cachorrinho! e o garoto ficou de joelhos Assim! Agora vem, brinca um pouco com o brinquedo do papai. Nogueira disse isso enquanto tocava seu pênis Ohhh! Isso! - deixou-se chupar por mais um tempo.

E sem que o jovem esperasse, Nogueira o empurrou para longe.

Agora fica aí seu, verme! Deitado aí no chão onde é o seu lugar.

Sim, meu mestre.

O garoto estava prestes a atingir o orgasmo, mas sabia que aquilo seria a sua condenação. Nenhum escravo que se prezasse poderia gozar antes de seu mestre, afinal era pra isso que eles existiam, para dar prazer e não para sentir prazer. Pelo menos era assim que Matheus pensava.

Nogueira andou até ele e assim que estava próximo o suficiente, pisou com força em seu peito. Matheus gritou e sentiu que não iria aguentar conter o orgasmo por muito tempo.

Está preparado para seu fist, sua cadela imunda?

Sim, mestre! É tudo o que mais quero.

Nogueira sorriu satisfeito.


***


Quando Caio retornou ao quarto encontrou Ligia dobrando umas roupas e deixando-as em sua cama. Ela estava distraída com a tarefa que realizava quando Caio falou:

Ligia!

Ela gritou de susto e assim que viu Caio, mas sorriu logo depois.

Ai, que boba que eu sou. Desculpe.

Não precisa se desculpar, Ligia. Aquela camisa que eu pedi para você lavar já está seca?

Ela sorriu com timidez.

Certo. Mas sim, já está seca, está por aqui no meio da outras roupas. – e ela procurou Aqui está. É essa, não é? – ela disse mostrando a camisa.

É essa mesma.

É uma camisa bonita.

Obrigado.

Houve um período de silêncio até que Ligia disse:

Já está na minha hora, tenho que ver minha sogra ainda, ela não anda muito bem ultimamente.

O que houve?

É a idade mesmo. Ele tem problema de coração e abusa da saúde, aí já viu, né?

É verdade. Melhoras para ela.

Obrigada. Na quarta eu estou de volta, se Deus quiser.

Ok, vamos aguardar.

Ligia sorriu com simpatia.

Certo. Bom domingo para o senhor.

Pra você também, Ligia.

Com licença.

Toda.

E ela saiu. Caio sentou-se na cama, por mais que não estivesse completamente seco, e pegou a camisa de Roger.

É, realmente é uma camisa bonita. – ele disse, esboçando um sorriso.

E então ele se perguntou se o episódio da noite anterior tivera sido um sinal dos céus.

De qualquer forma você me salvou, cara. Obrigado.


Parte 8

Por que você não me impediu, Caio?

Ouvi-lo falar enquanto tentava conter o choro provocou em Caio uma sensação horrível.

Eu não podia fazer isso com você. – Caio respondeu, tentando não demonstrar sua emoção ao telefone.

Mas você podia ter feito algo! Nossa história podia ser diferente...

Não. Nunca teríamos uma história juntos. – Caio o interrompeu.

Por que está dizendo isso? Sabe o quanto você é importante pra mim.

Caio começou a chorar.

Por favor, pare de dizer essas coisas!

Não, Caio, é muito forte, eu sinto que vou explodir se não falar. Eu te amo.

Não fala mais nada, por favor. Eu tenho que desligar.

Não faça isso! – ele implorou Por favor, não desligue. Eu tenho que falar com você! Por favor, vamos conversar

Já está tudo definido agora, não há mais nada a ser falado.

Isso não é verdade. Eu estou indo embora amanhã, hoje é a nossa última chance! Por favor, Caio!! Eu estou implorando pra você. Fica comigo.

Caio ficou em silêncio durante algum tempo.

Caio?

Eu ainda estou aqui.

Eu quero te ver.

Não.

Eu preciso te ver.

Não.

Por que está sendo cruel comigo?

Porque eu te amo, droga!

Houve um silêncio mútuo, até que Caio o rompeu:

Mas você merece alguém melhor que eu.

Você e o seu amor são tudo o que me basta.

Caio voltou a ficar em silêncio.

Caio?

Caio hesitou um pouco antes de pronunciar suas últimas palavras:

Vou sentir sua falta, mas quero que seja feliz.

E Caio desligou.

Caio, você está bem?

Era a voz de Jennifer agora.

Estou sim. ele respondeu, colocando os óculos escuros para esconder os olhos marejados de lágrimas.

Não parece. – Jennifer sentou-se na frente dele e retirou seus óculos Você está chorando? Por quê?

Caio tomou os óculos da mão dela e voltou a colocá-los.

Eu não estou chorando! É que... É que eu acho que entrou algum cisco no meu olho, aí eu comecei a coçar e por isso eles estão assim.

Hum... É melhor eu ver isso. – ela retirou os óculos dele Em qual dos olhos o cisco entrou?

Foi no esquerdo.

Que curioso. Seus dois olhos estão cheios d’água. O que seria isso? Algum tipo de solidariedade óptica por parte do direito?

Não. É que...

Meninos bonzinhos não mentem, Caio. – Jennifer o interrompeu.

Caio se viu desarmado, mas tentou uma última cartada:

Não devíamos estar falando de mim. Por que não me diz como foi a conversa com o Daniel?

Nada de diferente. Ele disse que me amava, que estava arrependido e que queria voltar. Agora não tente me colocar distante de seus problemas, Caio. Como sua amiga, eu exijo que você me diga por que estava chorando.

Ele abaixou a cabeça, envergonhado.

Ok. Não posso ser injusto com você.

Jennifer sorriu agradecida.

É meu pai, Jenny. A mamãe disse que ele não volta pra casa essa semana. - Caio desviou o olhar, ressentido consigo mesmo por estar mentindo.

Mas não é a primeira vez que isso acontece.

Eu sei, só que agora é diferente. Ainda que não tenhamos uma relação tão boa, eu gosto dele. Às vezes sinto vontade de dizer tudo que estou sentindo, mas ele odeia esses sentimentalismos, nunca gostou que eu ficasse muito perto dele, mas meu pai nunca entendeu que eu ficava perto porque sentia falta dele.

Eu entendo, mas não fica assim não. Ainda que ele não goste, insista, tente falar isso com ele. Afinal, sempre existem coisas a serem ditas, não é verdade? – ela sorriu.

Caio não respondeu. Tudo que mais desejava naquele momento era sumir.


***


Eram sete da noite quando Caio chegou em casa. Ainda estava dentro do carro e chorava muito. Tudo estava sendo difícil demais ou ele estaria sendo fraco demais para lutar por sua felicidade? Qualquer que fosse a resposta correta, Caio já havia tomado uma decisão, certamente a mais drástica de sua vida: iria cometer suicídio naquela mesma noite. Não sabia como se mataria ao certo, mas sabia que queria deixar toda aquela dor que sentia para trás. Pensou em sua mãe e na dor que causaria ao fazer aquilo, mas tinha certeza de que ela poderia superar, sempre a julgou tão forte e não seria agora que ela iria fraquejar. Pensou em Jennifer, a irmã que adotara quando se conheceram no ensino médio e desde então nunca o deixara. “Ela irá entender” ele pensou, não querendo que qualquer pensamento covarde o levasse a desistir. Já pensava em alguma forma lenta para que a dor daquele ato superasse toda a dor de seu passado e do seu presente quando sentiu-se atraído por um cheiro forte dentro do carro. Era um cheiro desagradável, algo como se estivesse velho, mas ele sabia que não era comida, sempre detestou comer ou que alguém comesse em seu carro, então o que seria? E de onde vinha? Abriu o porta-luvas, olhou no banco de trás, no chão do banco de trás e nada encontrou. Foi então que ele notou um papel jogado, embaixo do banco do carona, balançando de um lado para o outro com o vento do ar condicionado. “Como esse papel veio parar aqui?” ele pensou. Estava curioso demais para que continuasse parado vendo um papel se mexer. Então, Caio soltou o cinto de segurança e curvou-se para o lado e tamanha foi a surpresa que teve com o que viu que foi impossível que ele não sorrisse. O papel que se movia era uma etiqueta, daquelas que exibem o tamanho da roupa, de uma camisa regata suja. A camisa de Roger.


***


Então é aqui que você trabalha?

Roger voltou-se em direção a voz e quase deixou que a coqueteleira escapasse de suas mãos quando viu Bruna, do outro lado do balcão.

O que você quer aqui, Bruna?

Eu vim falar com você. Ainda não estou completamente convencida de que você recusou a minha proposta. Eu tinha que ver com meus próprios olhos que trabalho era esse que pudesse ser tão bem remunerado e te fizesse abrir mão de uma sociedade, mas confesso que estou decepcionada com o que estou vendo.

Eu gosto do que faço.

Muita gente também gostava do que você fazia na Intimus, principalmente quando você usava suas mãos para outras coisas. – ela sorriu com malícia.

O jovem que esperava o drinque e estava a poucos centímetros de distância de Bruna levou a mão à boca para disfarçar o riso. Roger corou.

Você não devia ter vindo aqui! Esse é o meu local de trabalho! – Roger falou, enquanto ajeitava o drinque numa taça.

Eu vim na paz, meu bebê.

Roger colocou a bebida à frente do cliente e disse:

Seu drinque, amigo.

Valeu, parceiro.

O rapaz pegou a taça e se afastou para não deixar Roger mais constrangido.

Como foi que me encontrou, Bruna?

Você acredita em destino?

Não.

Eu também não acreditava. – ela sorriu.

Roger estava perdendo a paciência, tinha que dar por encerrada aquela conversa antes que se prejudicasse no trabalho.

O que é dessa vez? Vai me convidar para ser o sócio da Disney?

Não. A proposta ainda é a mesma e essa é sua última chance.

Do que está falando?

Estou voltando para Leonice amanhã bem cedo. É pegar ou largar.

Esquece!

Pense com um pouco mais de carinho. Eu ainda tenho a noite toda.

O quê?

Isso mesmo, querido. Eu vou ficar aqui até estar convencida de que você realmente não quer esta sociedade. Enquanto isso você pode preparar um Dry Martine para mim, por favor?