
─ Por que você não me impediu, Caio?
Ouvi-lo falar enquanto tentava conter o choro provocou em Caio uma sensação horrível.
─ Eu não podia fazer isso com você. – Caio respondeu, tentando não demonstrar sua emoção ao telefone.
─ Mas você podia ter feito algo! Nossa história podia ser diferente...
─ Não. Nunca teríamos uma história juntos. – Caio o interrompeu.
─ Por que está dizendo isso? Sabe o quanto você é importante pra mim.
Caio começou a chorar.
─ Por favor, pare de dizer essas coisas!
─ Não, Caio, é muito forte, eu sinto que vou explodir se não falar. Eu te amo.
─ Não fala mais nada, por favor. Eu tenho que desligar.
─ Não faça isso! – ele implorou ─ Por favor, não desligue. Eu tenho que falar com você! Por favor, vamos conversar
─ Já está tudo definido agora, não há mais nada a ser falado.
─ Isso não é verdade. Eu estou indo embora amanhã, hoje é a nossa última chance! Por favor, Caio!! Eu estou implorando pra você. Fica comigo.
Caio ficou em silêncio durante algum tempo.
─ Caio?
─ Eu ainda estou aqui.
─ Eu quero te ver.
─ Não.
─ Eu preciso te ver.
─ Não.
─ Por que está sendo cruel comigo?
─ Porque eu te amo, droga!
Houve um silêncio mútuo, até que Caio o rompeu:
─ Mas você merece alguém melhor que eu.
─ Você e o seu amor são tudo o que me basta.
Caio voltou a ficar em silêncio.
─ Caio?
Caio hesitou um pouco antes de pronunciar suas últimas palavras:
─ Vou sentir sua falta, mas quero que seja feliz.
E Caio desligou.
─ Caio, você está bem?
Era a voz de Jennifer agora.
─ Estou sim. – ele respondeu, colocando os óculos escuros para esconder os olhos marejados de lágrimas.
─ Não parece. – Jennifer sentou-se na frente dele e retirou seus óculos ─ Você está chorando? Por quê?
Caio tomou os óculos da mão dela e voltou a colocá-los.
─ Eu não estou chorando! É que... É que eu acho que entrou algum cisco no meu olho, aí eu comecei a coçar e por isso eles estão assim.
─ Hum... É melhor eu ver isso. – ela retirou os óculos dele ─ Em qual dos olhos o cisco entrou?
─ Foi no esquerdo.
─ Que curioso. Seus dois olhos estão cheios d’água. O que seria isso? Algum tipo de solidariedade óptica por parte do direito?
─ Não. É que...
─ Meninos bonzinhos não mentem, Caio. – Jennifer o interrompeu.
Caio se viu desarmado, mas tentou uma última cartada:
─ Não devíamos estar falando de mim. Por que não me diz como foi a conversa com o Daniel?
─ Nada de diferente. Ele disse que me amava, que estava arrependido e que queria voltar. Agora não tente me colocar distante de seus problemas, Caio. Como sua amiga, eu exijo que você me diga por que estava chorando.
Ele abaixou a cabeça, envergonhado.
─ Ok. Não posso ser injusto com você.
Jennifer sorriu agradecida.
─ É meu pai, Jenny. A mamãe disse que ele não volta pra casa essa semana. - Caio desviou o olhar, ressentido consigo mesmo por estar mentindo.
─ Mas não é a primeira vez que isso acontece.
─ Eu sei, só que agora é diferente. Ainda que não tenhamos uma relação tão boa, eu gosto dele. Às vezes sinto vontade de dizer tudo que estou sentindo, mas ele odeia esses sentimentalismos, nunca gostou que eu ficasse muito perto dele, mas meu pai nunca entendeu que eu ficava perto porque sentia falta dele.
─ Eu entendo, mas não fica assim não. Ainda que ele não goste, insista, tente falar isso com ele. Afinal, sempre existem coisas a serem ditas, não é verdade? – ela sorriu.
Caio não respondeu. Tudo que mais desejava naquele momento era sumir.
Eram sete da noite quando Caio chegou em casa. Ainda estava dentro do carro e chorava muito. Tudo estava sendo difícil demais ou ele estaria sendo fraco demais para lutar por sua felicidade? Qualquer que fosse a resposta correta, Caio já havia tomado uma decisão, certamente a mais drástica de sua vida: iria cometer suicídio naquela mesma noite. Não sabia como se mataria ao certo, mas sabia que queria deixar toda aquela dor que sentia para trás. Pensou em sua mãe e na dor que causaria ao fazer aquilo, mas tinha certeza de que ela poderia superar, sempre a julgou tão forte e não seria agora que ela iria fraquejar. Pensou em Jennifer, a irmã que adotara quando se conheceram no ensino médio e desde então nunca o deixara. “Ela irá entender” ele pensou, não querendo que qualquer pensamento covarde o levasse a desistir. Já pensava em alguma forma lenta para que a dor daquele ato superasse toda a dor de seu passado e do seu presente quando sentiu-se atraído por um cheiro forte dentro do carro. Era um cheiro desagradável, algo como se estivesse velho, mas ele sabia que não era comida, sempre detestou comer ou que alguém comesse em seu carro, então o que seria? E de onde vinha? Abriu o porta-luvas, olhou no banco de trás, no chão do banco de trás e nada encontrou. Foi então que ele notou um papel jogado, embaixo do banco do carona, balançando de um lado para o outro com o vento do ar condicionado. “Como esse papel veio parar aqui?” ele pensou. Estava curioso demais para que continuasse parado vendo um papel se mexer. Então, Caio soltou o cinto de segurança e curvou-se para o lado e tamanha foi a surpresa que teve com o que viu que foi impossível que ele não sorrisse. O papel que se movia era uma etiqueta, daquelas que exibem o tamanho da roupa, de uma camisa regata suja. A camisa de Roger.
─ Então é aqui que você trabalha?
Roger voltou-se em direção a voz e quase deixou que a coqueteleira escapasse de suas mãos quando viu Bruna, do outro lado do balcão.
─ O que você quer aqui, Bruna?
─ Eu vim falar com você. Ainda não estou completamente convencida de que você recusou a minha proposta. Eu tinha que ver com meus próprios olhos que trabalho era esse que pudesse ser tão bem remunerado e te fizesse abrir mão de uma sociedade, mas confesso que estou decepcionada com o que estou vendo.
─ Eu gosto do que faço.
─ Muita gente também gostava do que você fazia na Intimus, principalmente quando você usava suas mãos para outras coisas. – ela sorriu com malícia.
O jovem que esperava o drinque e estava a poucos centímetros de distância de Bruna levou a mão à boca para disfarçar o riso. Roger corou.
─ Você não devia ter vindo aqui! Esse é o meu local de trabalho! – Roger falou, enquanto ajeitava o drinque numa taça.
─ Eu vim na paz, meu bebê.
Roger colocou a bebida à frente do cliente e disse:
─ Seu drinque, amigo.
─ Valeu, parceiro.
O rapaz pegou a taça e se afastou para não deixar Roger mais constrangido.
─ Como foi que me encontrou, Bruna?
─ Você acredita em destino?
─ Não.
─ Eu também não acreditava. – ela sorriu.
Roger estava perdendo a paciência, tinha que dar por encerrada aquela conversa antes que se prejudicasse no trabalho.
─ O que é dessa vez? Vai me convidar para ser o sócio da Disney?
─ Não. A proposta ainda é a mesma e essa é sua última chance.
─ Do que está falando?
─ Estou voltando para Leonice amanhã bem cedo. É pegar ou largar.
─ Esquece!
─ Pense com um pouco mais de carinho. Eu ainda tenho a noite toda.
─ O quê?
─ Isso mesmo, querido. Eu vou ficar aqui até estar convencida de que você realmente não quer esta sociedade. Enquanto isso você pode preparar um Dry Martine para mim, por favor?
Menino do ceu, #toloka, não entendi aquele começo nao, sera que perdi alguma coisa nas partes anteriores? Ou é coisa que ainda esta por vir? To ansioso pro restante
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