Parte 1




Domingo, 22 de Julho de 2007.

Eles entraram no motel por volta das onze da noite. Não era a primeira vez que Caio saía com alguém mais velho, mas o fato de seu companheiro ter o dobro de sua idade não era tão angustiante quanto o local que haviam escolhido para a ocasião. Nada muito luxuoso, mas nada tão pobre, algo que ficasse no meio termo do bom gosto e agradável. Tenente Nogueira entrou primeiro no quarto e logo quis conferir o estado do banheiro. Na sua concepção qualquer canto daquele espaço poderia estar bagunçado, menos o banheiro.
Tudo parece ótimo até agora. – disse Nogueira, sorrindo em seguida.
Caio estudou melhor aquele com quem passaria mais uma de suas noites. Nogueira tinha certo charme ao sorrir, mas aquela muralha de um metro e noventa e três era capaz de meter medo em muita gente. A pele morena com poucos pêlos em regiões como peitoral, coxas e barriga, salientava os músculos definidos nos mesmos locais em virtude dos muitos anos de exercícios militares. Os olhos eram bem pretos e quando Nogueira assumia uma expressão hostil, eles se tornavam capazes de fuzilar qualquer pessoa em pequenas frações de segundos. Os cabelos pretos e lisos já apresentavam os primeiros fios brancos, mas isso não significava nada para alguém como ele, que via na virilidade a verdadeira essência da juventude.
É a sua primeira vez? – Nogueira perguntou enquanto ligava o ar condicionado.
A pergunta pegou Caio de surpresa. É claro que não era sua primeira vez! Já saíra com alguns caras, não muitos, é óbvio, até porque o filho do governador não podia se dar ao prazer de ter suas aventuras sexuais com alguém do mesmo sexo sem que isso se transformasse num escândalo e até então todas as suas relações foram sigilosas o bastante para manter esse segredo bem guardado. Até mesmo quando tivera sua primeira vez o seu parceiro não havia feito uma pergunta tão estúpida quanto a do tenente Nogueira, mas Caio tinha que ser educado o bastante para poder responder.
Não. – disse ele, e foi difícil não notar a decepção de Nogueira Pelo menos não com alguém mais velho. – Caio procurou tornar a situação menos desagradável para os dois.
Nogueira sorriu com certa malícia. Caio era seu tipo de presa preferida. Jovem, corpo definido por algum esporte, cerca de um metro e setenta e cinco, pele clara, cabelos pretos e lisos, levemente ondulados, olhos castanho-claros e boca não muito grande, mas “carnuda”.
E você curte caras mais velhos?
Sim. – Caio respondeu, incomodado.
E o que mais gosta de fazer?
Isso depende do clima na hora.
Ah é? – ele sorriu novamente e se sentou na cama Então venha até aqui. - Nogueira convidou, tocando o pênis sob a roupa Tenho dezenove centímetros de pura sacanagem prontinhos pra incendiar esse quarto e enlouquecer você.
E foi naquele momento que Caio soube que sua noite seria um tiro no pé.

***

Tenente Nogueira já terminava um segundo cigarro quando sugeriu:
Por que não me conta como foi sua primeira vez?
Caio foi hostil o suficiente ao dizer:
E por que eu deveria te contar sobre a minha vida?
Porque agora nós somos amigos. – sorriu e soltou uma nuvem de fumaça para cima. E além do mais, esses relatos de primeira vez me dão o maior tesão.
Sinto muito, cara, mas se quer sentir tesão com historinhas, compre uma revista em quadrinhos pornô.
Nogueira soltou uma gargalhada e levantou-se da cama em seguida, ainda com um toco de cigarro na mão.
Você é um pouco esquentado. – Nogueira sorriu Isso é bom. Gosto de pessoas que tem problemas com autoridade. Deveria entrar pra forças armadas, lá eu iria te ensinar muitas coisas, inclusive como ser mais calminho. – sorriu.
Foi a vez de Caio levantar da cama.
Foi mal, cara, mas eu tenho que ir. Já é quase uma da manhã. – e Caio começou a vestir-se.
Nogueira adiantou-se em detê-lo:
Ei, calma aí, soldado. Ainda está cedo e eu quero curtir você mais um pouco.
Não dá. Eu realmente preciso ir. – disse isso voltando a sentar-se na cama para colocar as meias e tênis.
Ah! Qual é vai! Não vê que ele está precisando de carinho. – disse Nogueira aproximando o pênis, quase ereto, do rosto de Caio.
Caio levantou-se rapidamente, ainda com um tênis mal calçado.
Foi mal, mas não vai dar mesmo.
Nogueira fitou-o seriamente e disse:
Ok. Esta eu alivio pro seu lado.
Valeu.
Mas da próxima vez eu não vou ter piedade. – e sorriu sadicamente.
Próxima vez? Aquelas duas palavras nunca soaram tão estranhas aos ouvidos de Caio quanto naquele momento. O que será que o fazia pensar que haveria uma próxima vez? Caio preferiu não tentar achar respostas, tudo o que mais precisava era sair dali antes que se sentisse pior do que já estava.
Certo. – disse ele Fica para uma próxima vez.
Isso. Agora espere só mais um pouco e já saímos. Eu só preciso tomar um banho antes. Tudo bem pra você?
Tudo certo. Sem problema algum.
Ótimo.
Nogueira pegou uma toalha em uma das gavetas da cômoda e em seguida entrou no banheiro. Nem um minuto depois, Caio já estava do lado de fora do quarto.

***

A danceteria Ajiha estava no seu embalo inicial quando Caio entrou. A música e o ambiente da boate eram totalmente favoráveis para uma curtição e era isso que Caio desejava: curtir. Queria esquecer o episódio do tenente Nogueira e só pensar em voltar para casa animado o bastante para ter um bom dia. Ocupou um banco do bar e assim que o barman se aproximou, ele pediu:
Sex on the beach, por favor.
Ok.
Não levou muito tempo para que a bebida ficasse pronta e logo que o barman o serviu, ele perguntou a Caio:
Noite ruim, amigo?
Caio o estudou por um tempo. O barman devia ter no máximo vinte e cinco anos, os cabelos lisos eram ruivos e estavam ajeitados num penteado arrepiado, a pele era clara e livre de sardas, os olhos eram de um leve tom de verde e talvez o barman tivesse um metro e oitenta de altura, mas certamente era mais alto que Caio.
É... Um pouco. – e Caio provou a bebida. Humm, muito bom.
O barman sorriu orgulhoso.
Obrigado. Às vezes fico na maior neura de errar e quando alguém me elogia fico até mais tranquilo.
Mas está bom mesmo. Sem dúvida alguma o melhor drinque que já tomei comparando com as outras danceterias.
É a primeira vez que frequenta a Ajiha?
É sim, antes costumava ir mais à Hipotenusa. – e Caio riu.
O que foi? – quis saber o barman
Não, nada, é que agora que eu parei pra pensar nos nomes estranhos das danceterias aqui da cidade. Ajiha, Hipotenusa, Górgona... É cada nome. – riu novamente.
É mesmo. Ajiha ninguém sabe de onde surgiu. Dizem que o dono daqui acordou um dia e disse assim: “Ajiha!” – riu.
Caio também riu e disse em seguida:
Nossa, é um pouco doido mesmo. Mais um pouco e ela se chamaria “Eureca!”.
Acho que até seria um nome bem melhor, sabia? sorriu.
Por falar em nome... Como se chama?
Roger.
Caio estendeu a mão em cumprimento e disse:
Caio.
Roger correspondeu.
E faz tempo que você trabalha aqui? perguntou Caio disposto a sustentar a conversa.
Uns cinco anos já.
Puxa! Tempo pra caraca!
É mesmo.
Uma jovem se aproximou do balcão e pediu um drinque.
Pego daqui a pouco. – disse ela, voltando para a pista de dança em seguida.
Roger começou a preparar a Piña Colada, o drinque que a jovem pediu, e enquanto misturava os ingredientes comentou com Caio:
Aqui é assim. sorriu Uma correria só.
Pelo menos você não trabalha sozinho aqui. – disse isso contando um número de cinco atendentes no bar, entre barman e barwoman.
É, dividindo as tarefas fica mais fácil.
Com certeza.
A garota apareceu novamente:
Prepara uma lagoa azul pra mim também, por favor.
Claro.
Obrigada. ela se afastou de novo.
Caio e Roger se entreolharam e foi impossível que não sorrissem:
Eu não disse. – falou Roger enquanto arrumava o drinque no copo.
Pense pelo lado positivo. Os seus drinques agradam.
Roger soltou uma risada.
Ainda bem.
Roger ainda preparava o segundo drinque quando um colega de trabalho se aproximou dele. Era um rapaz negro, de vinte e dois anos, olhos castanho-escuros, cabelos cortados muito baixo, o que quase o deixava careca e um porte físico ideal para seu um metro e oitenta e sete de altura.
Ei, Roger, mandaram te entregar isso. e estendeu um bilhete a sua frente.
E quem foi que mandou?
Foi aquela garota ali, aquela loira de blusa verde claro, está vendo? Lá no canto, conversando com outras duas meninas.
Ah, sim.
O colega de Roger sorriu e comentou:
Eu juro que não li o bilhete, mas pelo jeito acho que aquela já é sua.
Roger também sorriu e isso foi mais decepcionante para Caio que o orgasmo que não teve com o tenente Nogueira.
Valeu aí, Diogo. – e Roger pegou o papel para guardá-lo no bolso da calça.
Boa sorte com ela, cara. Diogo se afastou. 
Roger voltou-se para trás para escolher o copo e ajeitar a bebida e quando se voltou em direção à pista de dança Caio já havia se levantado do balcão.