quinta-feira, 8 de julho de 2010

Parte 1

Domingo, 22 de Julho de 2007.


Eles entraram no motel por volta das onze da noite. Não era a primeira vez que Caio saía com alguém mais velho, mas o fato de seu companheiro ter o dobro de sua idade não era tão angustiante quanto o local que haviam escolhido para a ocasião. Nada muito luxuoso, mas nada tão pobre, algo que ficasse no meio termo do bom gosto e agradável. Tenente Nogueira entrou primeiro no quarto e logo quis conferir o estado do banheiro. Na sua concepção qualquer canto daquele espaço poderia estar bagunçado, menos o banheiro.

Tudo parece ótimo até agora. – disse Nogueira, sorrindo em seguida.

Caio estudou melhor aquele com quem passaria mais uma de suas noites. Nogueira tinha certo charme ao sorrir, mas aquela muralha de um metro e noventa e três era capaz de meter medo em muita gente. A pele morena com poucos pêlos em regiões como peitoral, coxas e barriga, salientava os músculos definidos nos mesmos locais em virtude dos muitos anos de exercícios militares. Os olhos eram bem pretos e quando Nogueira assumia uma expressão hostil, eles se tornavam capazes de fuzilar qualquer pessoa em pequenas frações de segundos. Os cabelos pretos e lisos já apresentavam os primeiros fios brancos, mas isso não significava nada para alguém como ele, que via na virilidade a verdadeira essência da juventude.

É a sua primeira vez? – Nogueira perguntou enquanto ligava o ar condicionado.

A pergunta pegou Caio de surpresa. É claro que não era sua primeira vez! Já saíra com alguns caras, não muitos, é óbvio, até porque o filho do governador não podia se dar ao prazer de ter suas aventuras sexuais com alguém do mesmo sexo sem que isso se transformasse num escândalo e até então todas as suas relações foram sigilosas o bastante para manter esse segredo bem guardado. Até mesmo quando tivera sua primeira vez o seu parceiro não havia feito uma pergunta tão estúpida quanto a do tenente Nogueira, mas Caio tinha que ser educado o bastante para poder responder.

Não. – disse ele, e foi difícil não notar a decepção de Nogueira Pelo menos não com alguém mais velho. – Caio procurou tornar a situação menos desagradável para os dois.

Nogueira sorriu com certa malícia. Caio era seu tipo de presa preferida. Jovem, corpo definido por algum esporte, cerca de um metro e setenta e cinco, pele clara, cabelos pretos e lisos, levemente ondulados, olhos castanho-claros e boca não muito grande, mas “carnuda”.

E você curte caras mais velhos?

Sim. – Caio respondeu, incomodado.

E o que mais gosta de fazer?

Isso depende do clima na hora.

Ah é? – ele sorriu novamente e se sentou na cama Então venha até aqui. - Nogueira convidou, tocando o pênis sob a roupa Tenho dezenove centímetros de pura sacanagem prontinhos pra incendiar esse quarto e enlouquecer você.

E foi naquele momento que Caio soube que sua noite seria um tiro no pé.


***


Tenente Nogueira já terminava um segundo cigarro quando sugeriu:

Por que não me conta como foi sua primeira vez?

Caio foi hostil o suficiente ao dizer:

E por que eu deveria te contar sobre a minha vida?

Porque agora nós somos amigos. – sorriu e soltou uma nuvem de fumaça para cima. E além do mais, esses relatos de primeira vez me dão o maior tesão.

Sinto muito, cara, mas se quer sentir tesão com historinhas, compre uma revista em quadrinhos pornô.

Nogueira soltou uma gargalhada e levantou-se da cama em seguida, ainda com um toco de cigarro na mão.

Você é um pouco esquentado. – Nogueira sorriu Isso é bom. Gosto de pessoas que tem problemas com autoridade. Deveria entrar pra forças armadas, lá eu iria te ensinar muitas coisas, inclusive como ser mais calminho. – sorriu.

Foi a vez de Caio levantar da cama.

Foi mal, cara, mas eu tenho que ir. Já é quase uma da manhã. – e Caio começou a vestir-se.

Nogueira adiantou-se em detê-lo:

Ei, calma aí, soldado. Ainda está cedo e eu quero curtir você mais um pouco.

Não dá. Eu realmente preciso ir. – disse isso voltando a sentar-se na cama para colocar as meias e tênis.

Ah! Qual é vai! Não vê que ele está precisando de carinho. – disse Nogueira aproximando o pênis, quase ereto, do rosto de Caio.

Caio levantou-se rapidamente, ainda com um tênis mal calçado.

Foi mal, mas não vai dar mesmo.

Nogueira fitou-o seriamente e disse:

Ok. Esta eu alivio pro seu lado.

Valeu.

Mas da próxima vez eu não vou ter piedade. – e sorriu sadicamente.

Próxima vez? Aquelas duas palavras nunca soaram tão estranhas aos ouvidos de Caio quanto naquele momento. O que será que o fazia pensar que haveria uma próxima vez? Caio preferiu não tentar achar respostas, tudo o que mais precisava era sair dali antes que se sentisse pior do que já estava.

Certo. – disse ele Fica para uma próxima vez.

Isso. Agora espere só mais um pouco e já saímos. Eu só preciso tomar um banho antes. Tudo bem pra você?

Tudo certo. Sem problema algum.

Ótimo.

Nogueira pegou uma toalha em uma das gavetas da cômoda e em seguida entrou no banheiro. Nem um minuto depois, Caio já estava do lado de fora do quarto.


***


A danceteria Ajiha estava no seu embalo inicial quando Caio entrou. A música e o ambiente da boate eram totalmente favoráveis para uma curtição e era isso que Caio desejava: curtir. Queria esquecer o episódio do tenente Nogueira e só pensar em voltar para casa animado o bastante para ter um bom dia. Ocupou um banco do bar e assim que o barman se aproximou, ele pediu:

Sex on the beach, por favor.

Ok.

Não levou muito tempo para que a bebida ficasse pronta e logo que o barman o serviu, ele perguntou a Caio:

Noite ruim, amigo?

Caio o estudou por um tempo. O barman devia ter no máximo vinte e cinco anos, os cabelos lisos eram ruivos e estavam ajeitados num penteado arrepiado, a pele era clara e livre de sardas, os olhos eram de um leve tom de verde e talvez o barman tivesse um metro e oitenta de altura, mas certamente era mais alto que Caio.

É... Um pouco. – e Caio provou a bebida. Humm, muito bom.

O barman sorriu orgulhoso.

Obrigado. Às vezes fico na maior neura de errar e quando alguém me elogia fico até mais tranquilo.

Mas está bom mesmo. Sem dúvida alguma o melhor drinque que já tomei comparando com as outras danceterias.

É a primeira vez que frequenta a Ajiha?

É sim, antes costumava ir mais à Hipotenusa. – e Caio riu.

O que foi? – quis saber o barman

Não, nada, é que agora que eu parei pra pensar nos nomes estranhos das danceterias aqui da cidade. Ajiha, Hipotenusa, Górgona... É cada nome. – riu novamente.

É mesmo. Ajiha ninguém sabe de onde surgiu. Dizem que o dono daqui acordou um dia e disse assim: “Ajiha!” – riu.

Caio também riu e disse em seguida:

Nossa, é um pouco doido mesmo. Mais um pouco e ela se chamaria “Eureca!”.

Acho que até seria um nome bem melhor, sabia? sorriu.

Por falar em nome... Como se chama?

Roger.

Caio estendeu a mão em cumprimento e disse:

Caio.

Roger correspondeu.

E faz tempo que você trabalha aqui? perguntou Caio disposto a sustentar a conversa.

Uns cinco anos já.

Puxa! Tempo pra caraca!

É mesmo.

Uma jovem se aproximou do balcão e pediu um drinque.

Pego daqui a pouco. – disse ela, voltando para a pista de dança em seguida.

Roger começou a preparar a Piña Colada, o drinque que a jovem pediu, e enquanto misturava os ingredientes comentou com Caio:

Aqui é assim. sorriu Uma correria só.

Pelo menos você não trabalha sozinho aqui. – disse isso contando um número de cinco atendentes no bar, entre barman e barwoman.

É, dividindo as tarefas fica mais fácil.

Com certeza.

A garota apareceu novamente:

Prepara uma lagoa azul pra mim também, por favor.

Claro.

Obrigada. ela se afastou de novo.

Caio e Roger se entreolharam e foi impossível que não sorrissem:

Eu não disse. – falou Roger enquanto arrumava o drinque no copo.

Pense pelo lado positivo. Os seus drinques agradam.

Roger soltou uma risada.

Ainda bem.

Roger ainda preparava o segundo drinque quando um colega de trabalho se aproximou dele. Era um rapaz negro, de vinte e dois anos, olhos castanho-escuros, cabelos cortados muito baixo, o que quase o deixava careca e um porte físico ideal para seu um metro e oitenta e sete de altura.

Ei, Roger, mandaram te entregar isso. e estendeu um bilhete a sua frente.

E quem foi que mandou?

Foi aquela garota ali, aquela loira de blusa verde claro, está vendo? Lá no canto, conversando com outras duas meninas.

Ah, sim.

O colega de Roger sorriu e comentou:

Eu juro que não li o bilhete, mas pelo jeito acho que aquela já é sua.

Roger também sorriu e isso foi mais decepcionante para Caio que o orgasmo que não teve com o tenente Nogueira.

Valeu aí, Diogo. – e Roger pegou o papel para guardá-lo no bolso da calça.

Boa sorte com ela, cara. Diogo se afastou.

Roger voltou-se para trás para escolher o copo e ajeitar a bebida e quando se voltou em direção à pista de dança Caio já havia se levantado do balcão.

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