sábado, 10 de julho de 2010

Parte 4

Cássio estava levemente molhado quando entrou no quarto do irmão. Ainda sentado ao computador, Caio digitava o projeto da faculdade quando percebeu o irmão mexendo em uma das gavetas de sua cômoda. Levantou-se rapidamente da cadeira e disparou:

Ei! Por que está mexendo nas minhas coisas? – adiantou-se em direção à cômoda.

Foi mal, Caio, eu não sabia que você estava aqui.

Caio fechou a gaveta antes que Cássio pudesse mexer em mais alguma coisa.

O que você quer?

Ei, calma! Eu só estava procurando uma toalha. A retardada da Ligia mandou lavar as minhas duas toalhas sem necessidade alguma e se você não reparou, eu estou molhado da chuva, quero tomar um banho decente.

Poderia ter pedido antes de começar a mexer nas minhas coisas.

Ei! Eu já pedi desculpa, eu não sabia que você estava aqui. E o que tem demais? Eu sou teu irmão, porra!

Mesmo assim! Eu não entro no seu quarto, muito menos reviro suas coisas.

Tudo bem, tudo bem. Só me diz se vai ou não me emprestar uma toalha.

Caio o encarou. Apesar de terem crescidos juntos, em nada se pareciam, tanto fisicamente quanto em personalidade, e por um momento Caio agradeceu a Deus por essas diferenças gritantes entre eles. Cássio era mais alto, corpo malhado, moreno claro, cabelos lisos e castanho-escuros, os olhos tinham um tom próximo ao amarelo e os lábios eram bem finos.

Tudo bem. – abriu a gaveta da cômoda e pegou uma toalha de algodão de cor azul Toma. Ah! E vê se leva o seu celular também. – foi até a cama e pegou o aparelho.

Putz! Estava procurando essa porra em todo lugar. Valeu.

Caio ainda o estudava.

Que foi? – perguntou Cássio Eu não mexi em nada aqui não, quer dizer, eu só vim para pegar seu dicionário, mas pode ficar tranquilo que ainda não encontrei o seu pote de ouro. – sorriu.

Vai se ferrar, Cássio!

É brincadeira, poxa! Você não sabe mesmo brincar hein! Pô, mano, precisa dar umas de vez em quando para melhorar esse humor. – riu

É, talvez eu devesse foder com a Simone, ela me parece ter um ótimo senso de humor.

Cássio ficou sério.

Ei! Qual é?

Que foi, Cássio? Eu só estou brincando.

Cássio ainda o fitava seriamente quando disse:

Beleza então. Agora eu vou pro meu quarto tomar meu banho.

Cássio já se afastava quando Caio o chamou:

Ei, Cássio, espera aí.

Cássio voltou-se:

Fala.

A Simone ligou para o seu celular quando você não estava e eu atendi, aí ela pediu pra te dar um recado.

Que recado?

Ela quer que você a pegue na faculdade mais cedo hoje, lá pelas oito e meia, dez para a nove.

Só isso?

Só.

Tudo bem.

E ele deixou o quarto do irmão.

Caio já voltava para frente do computador quando o seu celular começou a tocar.

Droga! Assim vai ser difícil terminar esse projeto. – disse isso enquanto caminhava em direção a mochila que estava em sua cama, para pegar o celular sempre colocado no bolso da frente. Conferiu o número e atendeu: Oi, Jenny! Tudo bem?

Um silêncio fúnebre do outro lado da linha incomodou Caio.

Jenny? É você?

Foi então que ele a ouviu chorando.

Meu Deus, Jenny! O que foi? Por que está chorando desse jeito?

Ah, Caio, me ajuda, por favor.

Calma, calma, eu vou te ajudar. Onde é que você está?

Eu... Eu estou em casa.

Ok, então não saia daí, já estou chegando, não vá fazer nenhuma besteira, pelo amor de Deus. Você me ouviu, né?

Jennifer choramingava do outro lado da linha.

Jenny?

Sim.

Então eu vou desligar, já estou indo pra sua casa.

Está bem... Beijo.

Beijo.

***


Caio levou menos de dez minutos para chegar à casa de Jennifer. Assim que desceu do carro, ele correu para a frente da casa e tocou a campanhia com nítida pressa em ajudar a amiga. Mariana, a empregada da casa, uma mulher de aparentemente quarenta anos, olhos castanhos, pele morena, cabelos castanho-escuros encaracolados, foi quem abriu o portão e assim que viu Caio, ela sorriu simpaticamente.

Boa tarde, Mariana.

Oi, Caio! Tudo bem?

Sim. A Jenny me ligou, pediu que eu viesse até a casa dela.

Ah sim! Entre! ela afastou-se um pouco.

Com licença. – ele entrou Onde ela está?

Ela está lá no quarto. Pode esperar lá na sala que eu vou pedir pra ela descer.

Não precisa, eu vou subir para falar com ela.

Tem certeza?

Acho que ela não iria se incomodar ou iria?

Não, vocês já são amigos há tanto tempo. Pode subir sim. – ela sorriu.

Obrigado.

E Caio atravessou a sala correndo, subindo as escadas da mesma maneira e assim que chegou ao quarto de Jennifer, tentou abrir a porta, mas estava trancada.

Jenny, abra porta, sou eu.

Ela estava deitada na cama e assim que reconheceu a voz do amigo começou a se levantar.

Jenny, é o Caio, abra essa porta.

Já estou indo.

Caio esperou mais alguns segundos e assim que Jennifer abriu a porta ele surpreendeu-se com estado da amiga. A jovem universitária de vinte a quatro anos, de pele clara, cabelos loiros e lisos até a altura dos ombros, e dona dos olhos azuis mais reluzentes que Caio já encontrara em nada se parecia com aquela garota fraca que estava diante dele.

Caraca! O que te aconteceu? Seus olhos estão...

Ela não esperou que ele terminasse de falar e o abraçou fortemente, calando-o com aquele gesto.

Ah, Caio... Ainda bem que você está aqui.

Ele correspondeu ao abraço.

Calma, Jenny, o que quer que seja vai ficar tudo bem.

Não dessa vez. – ela disse e desfez o abraço Vem, entra!

Caio passou e Jennifer voltou a trancar a porta.

Senta aí disse Jennifer indicando a cama.

Caio sentou-se e Jennifer sentou-se ao seu lado na beirada da lateral da cama.

Está me deixando nervoso, Jenny. O que aconteceu para você ficar nesse estado?

O Daniel e eu... ela deixou a frase incompleta.

Terminaram?

Também.

O quer dizer com isso?

Ele me traiu com a Flávia.

A Flávia?! Mas ela não é aquela sua meia irmã que você odeia?

É.

Caramba!

Não bastasse isso, ela acabou ficando grávida do Daniel.

Caio só conseguiu arregalar os olhos, tamanha a surpresa.

Eu... Eu... – Caio não sabia o que dizer Juro que não estou entendendo nada.

Eu muito menos.

Como soube disso tudo?

O Daniel me contou hoje a caminho da casa da mãe dele. Iríamos passar a tarde inteira juntos hoje, mas desde que ele veio me pegar em casa estava estranho. Aí eu fiquei curiosa e perguntei pra ele o que estava acontecendo, ele parou o carro e falou tudo na maior cara dura.

Pelo menos você soube por ele, ao menos ele foi sincero.

Sincero? Pelo amor de Deus, Caio! Ele me traiu com uma irmã falsificada e ainda por cima embuchou a paraguaia!

Caio não pode deixar de rir das palavras que Jennifer usara.

Desculpa, Jenny, mas mesmo brava você tem um senso de humor invejável.

É, isso é pra disfarçar a vontade que tenho de matá-los.

Não diga besteira, aposto que o Daniel já está sofrendo muito com tudo isso.

Ah! Lá vem você defendendo os fracos e oprimidos.

Mas é verdade. É verdade também que ele mandou muito mal te traindo, ainda mais com a sua meia irmã, mas mesmo assim eu não duvido que ele esteja arrependido.

Ah sim. ela sorriu com ironia.

É sério. Eu posso não ser a melhor pessoa para falar de amor, mas com toda a certeza ele ainda te ama.

Jennifer sorriu docemente e disse:

É incrível como vocês homens se protegem, sabia? Ainda assim, obrigado pela força que está me dando. Ninguém em sua sã consciência sairia de sua casa para aturar os chiliques de uma universitária a beira dos vinte e cinco, como eu. Você é o melhor amigo do mundo.

Caio sorriu timidamente, elogios sinceros sempre os deixavam envergonhado.

Vem cá. – ele disse fazendo com que Jennifer repousasse a cabeça em suas pernas. Eu vou ficar aqui do seu lado, te mimando, mas é só por hoje. Procure não pensar nisso mais, as coisas vão se resolver. Descanse um pouco agora. – e ele começou a acariciar os cabelos dela.

Jennifer sentiu-se acolhida com aquele gesto tão bonito.

Eu te amo, Caio.

Eu também te amo, Jenny.

Não demorou muito para que Jennifer adormecesse sob a proteção de Caio.

3 comentários:

  1. Na próxima parte... O reencontro de Caio e Roger. É o destino começando a ser traçado.

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  2. Ai que delícia, e que bonitinho o carinho do Caio com a Jenny. Amigos de verdade, tomara que ela seja um apoio na relação dos dois pombinhos (Caio e Roger),rs...

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  3. Hey, amigoooo! Nossa, é tão bom te ver por aqui acompanhando a história, eu fico muito feliz. Mas sim, a Jenny e o Caio são melhores amigos, daqueles que brigam feio, mas se reconciliam e daqueles que apoiam um ao outro. Esteja certo de que ela ajudará muito na relação do Caio com o Roger, inclusive no momento mais crítico da história dos dois.

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